Participação no Hora da Coruja

Na próxima terça-feira às 22:00 vou participar do programa Hora da Coruja falando - dentre outras coisas- sobre o livro Canção, estética e política: ensaios legionários. O programa é apresentado pelo casal Francielle Chies e Paulo Ghiraldelli Jr, amigos que fazem parte do Gt de Pragmatismo e Filosofia Norte-Americana. Assista ao programa  ao vivo pela internet no link: http://www.justtv.com.br/

Montagem feita pelo Fã clube Legião Jovem de David Obadiah


na Revista Filosofia Conhecimento Prático: Entre o jargão e o refrão

Na revista Filosofia Conhecimento Prático de número 39 (novembro de 2012) publiquei um pequeno depoimento sobre como o projeto do livro Canção, estética e política: ensaios legionários (Mercado de Letras, 2012) surgiu e se desenvolveu. De certa forma ele foi uma forma de conciliar uma obsessão privada com a necessidade pública e mais concreta vivência de sala de aula. Clique na capa e confira o texto: "Entre o jargão e o refrão"!

Saiu no Terceiro Caderno!: Ensaios Legionários: tudo o que Renato Russo queria dizer

 O jornalista Paulo Galvez, meu amigo desde os tempos de estudante em Goiânia, fez uma apresentação do Canção, estética e política: ensaios legionários. Ele foi o primriro a ler o trabalho todo (ou "quase" completo).

Ensaios Legionários: tudo o que Renato Russo queria dizer 

Por Paulo Galvez

Tive o prazer de ler o livro Canção, Estética e Política: Ensaios Legionários ainda nos originais, uns bons anos atrás. Duplo prazer, por ser fã da Legião Urbana e amigo do autor, o então estudante de filosofia e hoje doutorando Marcos Carvalho Lopes. Era a Goiânia do início dos anos 2000, com noites regadas a cerveja - pouca, já que Marcos não bebia - música e conversas semifilosóficas: filosóficas por causa do Marcos e semi de minha parte, empolgado pelas ideias sugeridas pelo álcool.

Os anos se passaram, hoje vivo em Curitiba e entendo cada vez menos as coisas, o Marcos vive no Rio de Janeiro onde estuda e trabalha, e o ócio criativo ficou para trás. Não sei ele, mas eu já nem acreditava mais na publicação da obra - que tece uma teia filosófica para explicar a obra da Legião - devido ao complicado mercado editorial brasileiro. Portanto, foi com surpresa que recebi a notícia do lançamento, pelo Mercado das Letras, meses atrás.

Semana passada recebi pessoalmente meu exemplar, feliz com a conclusão de um belo trabalho sobre o qual tanto conversamos e pelo privilégio de conhecer de perto o que está ali: "É praticamente o mesmo texto", confirma o autor. O que não dispensa uma nova leitura assim que o escasso tempo permitir.

Se você é fã do rock nacional dos anos 1980, os melhores, e quer saber de onde vinha a criatividade de Renato Russo, além de compreender as ideias sugeridas na bela obra da banda, é uma leitura imperdível.

Canção, Estética e Política - Ensaios Legionários pode ser solicitado diretamente no site da editora ou em livrarias virtuais: mais informações aqui.

Imprensa: Rock e filosofia nas letras da Legião- por Fábio Marques no Diário do Nordeste 31/07/2012

Em livro de ensaios sobre a Legião Urbana, Marcos Carvalho Lopes faz uma análise das letras de Renato Russo
No altar do rock dos anos 1980, duas grandes figuras ocupam em definitivo o patamar de poetas daquela geração: Cazuza e Renato Russo. Os dois, como dita a cartilha do panteão do rock, mortos precocemente, deixaram obras fortes, extensas e que refletem os anseios e sentimentos dos jovens para quem cantaram.

Vocalista e compositor da Legião Urbana, Renato Russo é figura central na análise de Marcos Carvalho Lopes.

Em "Canção, Estética e Política - Ensaios Legionários", o escritor goiano, doutorando em filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mergulha na trajetória de um deles, Renato Russo, e traça reflexões filosóficas, psicológicas e sociológicas, sobre o universo que tornou a brasiliense Legião Urbana um marco.

Os anos 1980, justifica o autor, formaram um geração para quem "o cinema, a contracultura, os astros que estampam camisetas e produtos tomaram o lugar dos livros sagrados como modelos de comportamento e valor".

A partir disto, ao tratar de temas como o amor, o cotidiano, a crítica social e questões existenciais, as músicas são referência para uma reflexão filosófica sobre a época e a juventude que fez de Renato Russo seu porta-voz.

Ensaios
Marcos coloca, naturalmente, o líder da Legião Urbana no centro da trama, que começa com a transformação do jovem Renato Manfredini Júnior (1960-1996), carioca vivendo a monotonia brasiliense do início dos anos 1980, no Renato que, ao lado de Dado Villa-Lobos (guitarra) e Marcelo Bonfá (bateria), gravou oito álbuns de estúdio e cinco ao vivo, além dos três de sua carreira solo.

Embora escritos isoladamente, sem a intenção inicial de compor a obra, os ensaios tecem uma trama que, camada por camada, desvelam o pensamento do grupo.

Aos ensaios, Marcos somou a discografia da Legião Urbana (incluindo os sete discos lançados em vida por Renato Russo), com comentários música a música.

Mito do Rock´n Roll nacional, o cantor transpôs para suas letras os sentimentos e anseios da juventude dos anos 1980

A invenção do mito Renato Russo é parte fundamental nesta caminhada, gestada na própria construção do nome, inspirado pelos filósofos Bertrand Russel e Jean-Jacques Rosseau, e no sonho do jovem Manfredini de ser um astro do rock. "Costumava falar que tinha toda sua vida planejada: até os 40 anos se dedicaria à música, até os 60, ao cinema, e, daí em diante, à literatura", lembra o autor.

Influências
Em "Dezesseis", música do disco "A Tempestade ou Livro dos Dias" (1996), último lançado em vida por Renato Russo, Marcos destrincha o "Mito do Rock´n Roll" que permeia a odisséia do jovem João Roberto e as referências que vão de Chuck Berry à Roberto Carlos, passando pelos Beatles nos versos de "Strawberry Fields Forever". "Dezesseis é um épico que desvela a essência da ´atitude´ / postura Rock and Roll", define.

O autor sugere influências da obra de artistas como Jean-Luc Godard, cujo filme "Número Deux" (1975) teria inspirado o nome do segundo disco da banda, ou os Beatles, que inspirariam a cada deste disco com o seu "Álbum Branco".

O lado "flâneur" de Renato parte desde as primeiras composições, como "Música Urbana", composta enquanto fazia parte da banda de punk Aborto Elétrico (e gravada anos depois pelo Capital Inicial), exposta ainda em "Tédio (com um T bem grande pra você)", "Baader-Meinhof Blues" e "Música Urbana 2". Ao flanar, argumenta o autor, ele assumia a postura de quem, embora percebendo os erros e contradições da sociedade, continua a caminhada, a fim de esquecer. "Somente no disco "As quatro estações", em sua primeira música, "Há tempos", Renato Russo salta da descrição para a opinião em busca de alguma solução", aponta.

Crítica
O engajamento das letras de Renato Russo, gestado com vigor em sua fase punk do Aborto Elétrico, segue presente em todos os trabalhos da Legião Urbana. O primeiro álbum, "Legião Urbana", traz sucessos da banda como "Será", contestando o sentimento de posse nos relacionamentos; "Dança", investindo contra os padrões de moda e comportamento; "Petróleo do Futuro", denunciando o individualismo e a indiferença da sociedade. E o clássico "Geração Coca-cola", uma rajada contra o sistema de educação.

O autor costura a trama fiada nos discos seguintes onde a crítica política e social segue em alguns como "Dois", que traz músicas como "Índios"; e no seguinte, "Que País é Este", com a música tema jogando a "sujeira" da nação no ventilador. Em "As Quatro Estações" (1989), Renato Russo quebra essa linha crítica e "busca uma perspectiva ética-romântica para falar da sociedade: construindo uma grande utopia em torno do amor e do sentimento sagrado", argumenta Marcos.

O disco seguinte, "V" (1991), revoga este discurso e traz a "antítese" do pensamento "o amor vai salvar o mundo", revelando as atribulações políticas do Brasil no início da década de 1990.

"O Descobrimento do Brasil" (1993), na análise do autor, fecha o ciclo sintetizando as lições de "As Quatro Estações" e "V". Repleto de referências aos acontecimentos que permeavam as criações de Renato Russo e da Legião Urbana, das influências do cinema, da música e da filosofia, o livro é um bom convite aos velhos de jovens fãs a escutar sobre outra perspectiva a obra da banda e mergulhar no tempo que, nas palavras do próprio Dado Villa-Lobos transcritas na contracapa, "insiste e não vai embora" e completa, "muito esclarecedor".

FÁBIO MARQUESREDAÇÃO
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1165241

Imprensa -Livros Recomendados da Revista Conhecimento Prático Filosofia




O livro Canção, estética e política - ensaios legionários é uma das obras da seção "Livros recomendados" na edição 37 da Revista Conhecimento Prático Filosofia que acaba de chegar às bancas. Confiram a revista e, é claro,  não deixem de adquirir um livro tão recomendado!

As várias estações da Legião - Gabriel Sá no Correio Braziliense 15/07/2012

Marcos Carvalho Lopes, 31 anos, era professor de filosofia em escolas estaduais de sua cidade natal, Jataí (GO), quando decidiu, no começo dos anos 2000, se utilizar de letras de canções da Legião Urbana para despertar em seus alunos interesse pela disciplina. Fã da banda desde meados da década anterior, o jovem não era do tipo que ia a shows, mas se impressionava com as ideias que embasavam os escritos de Renato Russo. Os estudos informais foram ganhando consistência e Marcos decidiu colocá-los no papel. Entre 2001 e 2007, dedicou-se a escrever Canção, estética e política — Ensaios legionários, que chega agora às lojas, pelo Mercado de Letras.

Um dos primeiros estalos de que a obra da Legião poderia manter um diálogo com questões filosóficas veio com a canção Se fiquei esperando meu amor passar, do álbum As quatro estações (1989). “Ela mistura a descrição de uma relação afetiva idealizada com um canto do catecismo católico. Para mim, como adolescente, essa junção satisfazia certa busca platônica que nessa fase da vida se torna muito chamativa. Como diria Nietzsche, o cristianismo seria um platonismo para massas”, detalha Marcos. Já no início da letra de Sereníssima, (“Sou um animal sentimental/ Me apego facilmente ao que desperta meu desejo”), o estudioso percebeu uma alusão ao filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, que descreveu o homem desta forma.

Foi Rousseau, inclusive, que, ao lado do britânico Bertrand Russell, teria inspirado o sobrenome escolhido pelo jovem Renato Manfredini Júnior: Russo. O livro pode ser visto como uma biografia idealizada deste personagem criado pelo compositor, a partir do momento em que se assume assim. “Para se inventar, você constrói uma obra. Renato dizia que sua vida não era importante, o que havia de importante estava em sua obra”, relata o autor. A publicação mergulha pelos álbuns da Legião Urbana, buscando perceber a relação deles com seu tempo, destacando algumas canções e o interdiscurso presente nelas.

A filosofia, aqui, foge um pouco das questões epistemológicas e busca se aproximar de uma abordagem mais pragmática. “A tarefa é tentar traduzir nosso tempo em pensamento. Para isso, os produtos culturais, que são signos de nosso tempo, devem ser investigados”, explica Marcos. Há, no livro, uma tese central que aponta para o conceito de utopia lírica, termo cunhado pelo filósofo Renato Janine Ribeiro para falar da anulação do “eu”. As canções de Russo estariam permeadas pela visão de que o indivíduo não é importante, e sim a coletividade. Isso tem muito a ver com o sentimento de nação unida que aflorava na abertura política dos anos 1980, pós-ditadura militar.
 
Referências

Algumas questões percebidas por Marcos Carvalho Lopes em canções da Legião Urbana:

Eduardo e Mônica
A canção inverte um paradigma social, os papéis tradicionais da mulher e do homem, colocando este como o dominado.

Faroeste caboclo
O personagem João de Santo Cristo remete ao mito do “bom selvagem”, que diz que “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe”. Essa temática também está presente em Índios.

A montanha mágica
De clima medieval, tem o mesmo nome do livro de Thomas Mann, em que a busca pelo autoconhecimento passa pelo uso de drogas. Pode ser vista como a experiência de Russo com a heroína, uma “especiaria”.

O teatro dos vampiros
Crítica à televisão e à alienação, aborda o vazio do mundo consumista, que vive de aparências, e as competições em uma sociedade capitalista.

Marcos Carvalho Lopes destaca trecho do livro "Canção, estética e política" - no Correio Braziliense

Por: Gabriel de Sá
Publicação: 15/07/2012 08:00 Atualização:
 
Marcos Carvalho Lopes, 31 anos, era professor de filosofia em escolas estaduais de sua cidade natal, Jataí (GO), quando decidiu, no começo dos anos 2000, se utilizar de letras de canções da Legião Urbana para despertar em seus alunos interesse pela disciplina. Fã da banda desde meados da década anterior, o jovem não era do tipo que ia a shows, mas se impressionava com as ideias que embasavam os escritos de Renato Russo. Os estudos informais foram ganhando consistência e Marcos decidiu colocá-los no papel. Entre 2001 e 2007, dedicou-se a escrever Canção, estética e política — Ensaios legionários, que chega agora às lojas, pelo Mercado de Letras.

Um dos primeiros estalos de que a obra da Legião poderia manter um diálogo com questões filosóficas veio com a canção Se fiquei esperando meu amor passar, do álbum As quatro estações (1989). “Ela mistura a descrição de uma relação afetiva idealizada com um canto do catecismo católico. Para mim, como adolescente, essa junção satisfazia certa busca platônica que nessa fase da vida se torna muito chamativa. Como diria Nietzsche, o cristianismo seria um platonismo para massas”, detalha Marcos. Já no início da letra de Sereníssima, (“Sou um animal sentimental/ Me apego facilmente ao que desperta meu desejo”), o estudioso percebeu uma alusão ao filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau, que descreveu o homem desta forma.

O autor Marcos Carvalho Lopes destaca alguns trechos de seu livro "Canção, estética e política - Ensaios legionários".

O autor Marcos Carvalho Lopes destaca alguns trechos de seu livro "Canção, estética e política - Ensaios legionários".

"Invertendo paradigmas sociais – feito comum nas canções da Legião onde existem narrativas, em Eduardo e Mõnica é ela quem “comanda” a relação: é mais velha, faz medicina, fala alemão, tem um gosto literário e musical refinado (gosta da poesia de Manoel Bandeira e do francês Arthur Rimbaud, das canções de Bauhaus, Mutantes e Caetano Veloso, da pintura de Van Gogh...) é mística, é punk (usa tinta no cabelo) e liberal. Eduardo aparece como um rapaz caseiro, de classe média burguesa, muito ligado aos valores familiares. Dessa combinação inusitada, surge uma relação amorosa, que cultivada (fizeram juntos natação, artesanato, teatro e viagens), fez com que conseguissem certo equilíbrio. Juntos (brigando, trabalhando, comemorando, etc.) construíram uma casa, uma família e todos dizem que são diferentes, mas se completam. Mesmo “com tudo diferente” inventaram uma saída poética por meio do amor." (p.64)

Começa o faroeste. Mas, o que diz “faroeste”? Esse nome nos trás a memória um gênero cinematográfico que, diferentemente de outros que se definem pelo sentimento que causariam no espectador (drama, suspense, terror etc.), representa uma região geográfica numa época específica: o “Oeste Selvagem” (Wild West ) dos Estados Unidos na segunda metade do século XIX, no período que vai da Guerra Civil ao fim da expansão dos rebanhos e da exploração de minérios, por volta de 1880. A chamada “marcha para o Oeste” (que deu origem ao nome far west ), teve como objetivo a busca por terras e ouro, o sonho de que nas regiões selvagens estariam as oportunidades de futuro e liberdade. No entanto, a rápida ocupação territorial gerou uma sociedade onde, sem a presença do Estado, valia a lei do mais forte.[...] Na história de João do Santo Cristo a “marcha para o Oeste” é a migração da personagem de uma região pobre do nordeste brasileiro em busca de um lugar onde tivesse oportunidades. Brasília surge como a “visão do paraíso”, uma terra prometida em sua dimensão utópica estrutural. (p.78-79)

[...] ao abandonar o mundo em favor de um ideal, ao procurar um ponto fixo a partir do qual tudo poderia ser explicado, o discurso da Legião Urbana caiu na metafísica como descrita por Jorge Luis Borges: uma espécie de literatura fantástica que nos causa admiração e assombro, mas que é constantemente desmentida pela realidade. O sentimento exaltado em As Quatro Estações é um ideal, o discurso desse álbum é de idealismo-romântico. A tediosa obsessão romântica com a morte e a sublimação ganham contornos políticos de transformação social: num momento em que o país se preparava para eleger democraticamente um presidente, depois de mais de 25 anos, o discurso da Legião Urbana captou e refletiu bem a esperança utópica de que a democracia poderia trazer consigo uma melhoria nas condições de vida da população. O confronto com a realidade facilmente “derreteria as asas de cera” desse idealismo romântico pós-moderno: infelizmente, isso era inevitável, não só para esse grupo de rock, mas para o país inteiro. (p.117)


É difícil daí não deduzir um paralelismo entre a vida pessoal e a vida da nação em o descobrimento do brasil. Os vícios de anos de Ditadura estariam vindo à tona com toda a força e o país precisaria se reinventar para sair do ciclo destrutivo de euforia e depressão, ou seja, deveríamos abandonar as esperanças de transformações épicas na política e assumir cada qual sua responsabilidade na difícil transformação dessa realidade. O seu discurso tentava também assimilar as lições da Era Collor. Nesse sentido, o descobrimento do brasil funcionaria como “uma reconstrução”, buscando falar “da valorização da família sem ser careta”, denunciando a indiferença e exaltando a responsabilidade de cada um como cidadão. (p.136)
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2012/07/15/interna_diversao_arte,311879/marcos-carvalho-lopes-destaca-trecho-do-livro-cancao-estetica-e-politica.shtml#.UAA8PkcufWk.facebook
Publicado também no Diário de Pernambuco : http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/viver/2012/07/15/internas_viver,385254/livro-de-escritor-goiano-explica-letras-de-musicas-da-legiao-urbana.shtml 

Imprensa: A filosofia da Legião Urbana - texto de VIVIANE BEVILACQUA no Pioneiros de Caxias do Sul

05/07/2012 | N° 11418

LIVRO

A filosofia da Legião Urbana

‘Canção, Estética e Política’ lembra grupo que reunia amor e protesto nas mesmas letras

Canção, Estética e Política – Ensaios Legionários (Editora Mercado de Letras, 175 págs., R$ 60) é, sim, mais um livro sobre a Legião Urbana, banda de rock surgida em Brasília, no início da década de 1980, liderada por Renato Russo, morto em 1996. Mas é mais do que uma biografia do grupo que vendeu mais de 20 milhões de discos.

Trata-se de um livro de ensaios filosóficos, no qual o autor Marcos Carvalho Lopes faz uma análise minuciosa da vida e obra de Renato Russo e sua trupe, além de uma profunda crítica cultural. Para o doutor em Filosofia Charles Feitosa, que assina a apresentação da obra, enquanto os outros grupos de rock da época se revezavam entre canções românticas ou de revolta, a Legião Urbana criava sons híbridos poderosos, capazes de reunir na mesma levada versos de amor e de protesto (como na música Índios, de 1986). “Isso foi um das marcas da originalidade da Legião Urbana: aqueles garotos eram capazes de, em um mesmo gesto musical, conectar o universal com o particular; o coletivo com o individual; o político com o afetivo. Nesse sentido, o livro Canção, Estética e Política deve ser saudado como um importante acontecimento literário e cultural”, escreveu.

A obra, acredita Feitosa, representa um importante avanço para a filosofia universitária brasileira, que ainda teima em fixar seus olhos na cultura europeia e a ignorar o que se passa à sua volta. Os ensaios propõem diversas chaves de compreensão das canções da Legião Urbana, percorrendo temas tão diversos quanto complexos, como o tempo, o cotidiano, o amor, a existência, a sociedade de consumo, a solidão, os rumos do país, os impasses da arte. O livro de Marcos Carvalho Lopes convida a escutar novamente as canções, mas com olhos e ouvidos renovados.

A Legião Urbana é até hoje um dos grupos musicais da gravadora EMI que mais vende disco de catálogo, com média de 250 mil cópias por ano. Só isso já bastaria para explicar a importância de Renato Russo (voz), Marcelo Bonfá (bateria e percussão) Renato Rocha (contrabaixo) e Dado Villa-Lobos (guitarra, violões, bandolim e viola). O fim oficial da banda foi em 22 de outubro de 1996, 11 dias após a morte de seu mentor, líder e fundador.

viviane.bevilacqua@diario.com.br
VIVIANE BEVILACQUA

 

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/impressa/11,3811060,1217,19936,impressa.html

Oficina: Canção popular como abertura para a filosofia: pensando com a Legião Urbana e os Engenheiros do Hawaii



(clique no banner acima para conferir o site do evento e aqui para se inscrever como ouvinte) 


Quinta-feira – 05 de julho09:00hs Oficina: Canção popular como abertura para a filosofia: pensando com a Legião Urbana e os Engenheiros do Hawaii - Marcos Carvalho Lopes (UNIRIO)

Local: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais,
 UFRJ, Largo de São Francisco de Paula, 01, Centro 
Rio de Janeiro-RJ 

Canção popular como abertura para a filosofia:
pensando com a Legião Urbana e os Engenheiros do Hawaii

Marcos Carvalho Lopes*

É inegável a importância que a música popular possui hoje na formação de identidade dos alunos do Ensino Médio. Os adolescentes tomam letras de canções (ou outros produtos da cultura pop como quadrinhos, séries de televisão, filmes etc.) como fundamento para a construção de sua visão de mundo. Tais produtos ocupam hoje um lugar privilegiado na cultura contemporânea e, por isso mesmo, sua análise pode ser um convite para o desenvolvimento de uma perspectiva de reflexão mais ampla como a proposta pela filosofia. Nesta oficina procuro justificar a utilização da música popular como instrumento para o Ensino de Filosofia; mais especificamente, do rock nacional  tratando das bandas Legião Urbana e Engenheiros do Hawaii. Duas grandes narrativas podem se vincular a esta abordagem: uma que toma o rock como parte da “criação da adolescência” com a trivialização de questionamentos existencialistas e de uma postura romântica de autocriação (que se traduz na necessidade de comprar certos produtos) e outra que toma o rock nacional dos anos 80 como um momento decisivo de desenvolvimento da Utopia Lírica presente rock (principalmente na década de 1960) e na MPB (até a Era Collor).  Estas duas narrativas geram um interessante pano de fundo para o trabalho e debate do rico interdiscurso presente nas letras das canções da Legião Urbana e dos Engenheiros do Hawaii. Estes dois grupos traduziram seu tempo em canção. A Legião Urbana fez isso a partir de uma postura épica e romântica, inspirada inicialmente pelo no future da estética punk e pela crítica de Rousseau aos efeitos da técnica sobre o desenvolvimento moral; mais tarde procurou um resgate do sagrado numa espécie de politeísmo romântico, um discurso que foi soterrado pela
melancolia e decepção da Era Collor refletindo a crescente distinção entre publico e privado. Já os Engenheiros do Hawaii surgiram dentro de uma faculdade de arquitetura, marcados por uma perspectiva pós-moderna e pop, que, traduzida para o universo da música popular, questionava a dimensão épica da canção. Este questionamento e denúncia das engrenagens da indústria cultural por meio de produtos dessa mesma indústria gerou um discurso que se autoconsumia (até o paradoxo e colapso) inspirado no absurdo de Camus, e que, mais tarde, (em algumas letras) tornou-se denúncia dos mecanismos da sociedade de controle. Esta oficina apresenta (e desdobra em suas consequências didáticas) parte do trabalho que desenvolvi no livro Canção, estética e política: ensaios legionários (2012). Além do relato de experiência e das propostas de abordagem, a oficina apresentará exemplos de trabalhos didáticos desenvolvidos a partir de canções.


* Professor na UNIRIO, doutorando em Filosofia no PPGF/UFRJ, bolsista da CAPES. 


Programação completa: 
Segunda-feira – 02 de julho
18:00hs Abertura: Rafael Haddock-Lobo (UFRJ) e Carolina Araújo (UFRJ)
Conferências:
Lucio Souza Lobo (UFPR): Oficinas de tradução: objetivos e experiência
Fernando Santoro (UFRJ): Com quantas palavras se faz uma filosofia?
Terça-feira – 03 de julho
09:00hs. Oficina: Metodologia do Ensino de Filosofia: A mediação do processo de ensino e aprendizagem dos conteúdos e competências específicos da Filosofia numa
perspectiva investigativo- reflexiva - Marinês Barbosa de Oliveira Dias (UFF)
11:00hs Conferências:
Angela Santi (UFRJ): Como ensinar filosofia na época da reprodutibilidade tecnológica? Anotações sobre a difícil relação entre educação e imagem
Wanderley da Silva (UFRRJ): A formação de professores de filosofia em ambientes virtuais e o ensino médio
13:00hs Intervalo
14:30hs Mesa-redonda: Laboratório de Ensino de Filosofia Gerd Bornheim
Adriany Mendonça (UFRJ); Filipe Ceppas (UFRJ); Iris Rodrigues de Oliveira (UFRJ).
16:30hs Comunicações:
Alexandre de Lourdes Laudino (SEEDUCRJ): Geopolítica do Conhecimento: Filosofia, Epistemicídio e Educação
Bruno de Figueiredo Alonso (UFF): Filosofia e suas áreas respectivas
17:30hs Intervalo
18:00hs Conferências:
Walter Omar Kohan (UERJ): Filosofia, o Paradoxo de Aprender
Markus Figueira da Silva (UFRN): Laboratório de Prática de Ensino: disciplina curricular da licenciatura em filosofia.
Quarta-feira – 04 de julho
09:00hs Oficina: Filosofia e Cinema: imagem, percepção e reflexão -Júlia Casamasso Mattoso (CA-UCP)
11:00hs Conferências:
Edgar Lyra (PUC-Rio): Filosofia para quem? O professor e seus públicos
Alexandre Jordão Baptista (UFMA): Filosofia, Sofística e Ensino na Grécia Antiga: contribuições para uma didática do diálogo argumentativo para a docência de filosofia no
Ensino Médio
13:00hs. Intervalo
14:30hs: Mesa-redonda: Como o cozinheiro aprender o ladrão filosofia sua mulher? e o amante
Giovania Costa (CEAM); Ingrid Müller Xavier (CPII); Marcelo Guimarães (CPII)
16:30hs: Comunicações
Brunno Amâncio Marcos (UFF): Repensando Gramsci: escola unitária e uma experiência do PIBID de filosofia da UFF no Colégio Estadual Joaquim Távora
Fernanda dos Santos Sodré (UFRJ): Educação e Filosofia como ato de resistência.
Felipe Araujo Fernandes (UFRJ): A vontade de viver a vida como uma obra de arte: Nietzsche e a cultura popular.
18:00hs Conferências:
Ricardo Fabbrini (USP): O ensino de filosofia: a leitura e o acontecimento
Ulysses Pinheiro (UFRJ): As aporias da didática em Deleuze e Spinoza
Quinta-feira – 05 de julho
09:00hs Oficina: Canção popular como abertura para a filosofia: pensando com a Legião Urbana e os Engenheiros do Hawaii - Marcos Carvalho Lopes (UNIRIO)
11:00hs Conferências:
Leonardo Maia (UFRJ): Universidade e filosofia: sentido da sua ligação contemporânea
Susana de Castro (UFRJ): A Filosofia e o Horror, na Literatura e no Cinema.
13:00hs Intervalo
14:30hs Mesa-redonda: Filosofia, ensino e poder
Alexandre Mendonça (UFRJ); Aline Veríssimo Monteiro (UFRJ); Adriany Mendonça (UFRJ)
16:30hs Comunicações:
Geraldo Adriano Emery Pereira (CAp-COLUNI / UFV): Filosofia, literatura e língua portuguesa, uma proposta de avaliação interdisciplinar
Luiz Maurício Bentim da Rocha Menezes (CPII/UFRJ): A Arte de Ensinar
Gustavo Bertoche Guimarães (UERJ): Projetos Interdisciplinares: Filosofia e Física
18:00hs Conferências:
Patrícia Velasco (UFABC): Licenciaturas em Filosofia: diagnóstico e prognósticos
Charles Feitosa (UNIRIO): Filosofia Pop: Experiências em Divulgação da Filosofia
Sexta-feira – 06 de julho
09:00hs. Oficina: Lecionando Filosofia para adolescentes - Renato Cosme Velloso da Silva (UERJ)
11:00hs Conferências:
Pedro Ergnaldo Gontijo (UNB): O Ensino de Filosofia e a implementação das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos
Flavio Costa Balod (CPII): O ensino de Filosofia no nível básico e no nível superior: comparando experiências.
13:00hs. Intervalo
14:30hs:Mesa-redonda: Filosofia, ensino e pesquisa
Giovanni Semeraro (UFF); Martha D’Angelo (UFF); Pedro Hussak (UFRRJ)
16:30hs. Comunicações:
Rodrigo Passos Almeida da Silva (UFRJ): Ensino da Morte dentro da escola
Louise Silva Oliveira (UFF): Vivência PIBID: A experiência de como ensinar Filosofia
17:30hs. Intervalo
18:00hs Conferências:
Reuber Scofano Gerbasi (UFRJ): Richard Rorty, Paulo Freire, Rubens Alves e o Ensino de Filosofia
Marcos Sidnei Pagotto-Euzebio (USP): Filosofia e Formação 

Texto de Charles Feitosa para a orelha de Canção, estética e política: ensaios legionários

Por que escrever um livro de filosofia em torno da Legião Urbana? É apenas uma banda de rock, diriam alguns, com letras e arranjos simples, como tantas outras que surgiram no cenário brasileiro dos anos 80. Nada mais injusto. A aparente simplicidade da obra da Legião Urbana esconde diversas matizes e nuances. Enquanto os outros grupos da época se revezavam entre canções românticas ou canções de revolta, Renato Russo e sua trupe criavam sons híbridos poderosos, capazes de reunir na mesma levada, versos de amor e de protesto (como na música “Índios” de 1986). Isso foi um das marcas da originalidade da Legião, capaz de, em um mesmo gesto musical, conectar o universal com o particular; o coletivo com o individual; o político com o afetivo; instâncias essas que a história do ocidente sempre insistiu em separar (vide a tragédia grega antiga Antígona ou os dramas modernos de Shakespeare).
Nesse sentido o livro Canção, Estética e Política -- Ensaios Legionários de Marcos Carvalho Lopes deve ser saudado como um importante acontecimento literário e cultural. Em primeiro lugar, porque em uma época de muitas homenagens a Legião, na forma de biografias, filmes e shows, faltava um livro que ousasse dialogar com a densidade do trabalho de Renato Russo e parceiros. Em segundo lugar porque representa mais um importante avanço para a filosofia universitária brasileira, que ainda teima em fixar seus olhos na cultura europeia e a ignorar o que se passa a sua volta. Precisamos urgentemente, cada vez mais, de mais e melhores livros que se proponham a pensar filosoficamente nossa própria cultura, nos seus fundamentos estéticos e políticos.
Os Ensaios Legionários propõem diversas chaves de compreensão das canções da Legião, percorrendo temas tão diversos, como complexos, tais como o tempo, o cotidiano, o amor, a existência, a sociedade de consumo, a solidão, os rumos do país, os impasses da arte, etc. Essas chaves de leitura não pretendem ser definitivas, nem esgotar o sentido das canções, ao contrário, elas servem muito mais para desvelar outras e variadas portas, que ainda precisarão ser abertas e exploradas. Se a música da Legião nos impelia a dançar, a cantar e a pensar, o leitura do livro de Marcos Carvalho Lopes nos convida a escutar novamente essas canções com olhos e ouvidos renovados. 

Charles Feitosa, autor de Explicando a filosofia com arte, Charles Feitosa é professor e pesquisador do Programa de Pós-Gradução em Artes Cênicas da UNIRIO, com pós-doutorado em Filosofia pela Universidade de Potsdam-Alemanha e doutorado em Filosofia na Albert Ludwigs Universität Freiburg, no mesmo país.

Sumário

Canção, Estética e Política: Ensaios Legionários



Sinopse:
O livro Canção, estética e política: ensaios legionários recontextualiza a obra da Legião Urbana em sua tentativa de traduzir seu próprio tempo em canção. O período de redemocratização trouxe na música popular um sério questionamento sobre o país e sua estrutura política e social. Os filhos da Ditadura não se acomodaram em simplesmente negar a pátria ou construir um discurso niilista. O rock brasileiro dos anos 80 representou bem o processo de abertura política, globalização e urbanização que a sociedade brasileira enfrentava. Mais do que isso, a transformação de valores com o advento de uma indústria' cultural forte e liberta da censura, tornou-se tema e problema para os roqueiros. A negação do 'fascismo cultural' e a consciência de que a estrutura autoritária transcendia o modelo político, levou alguns roqueiros oitentistas a propor em suas letras uma espécie de "Utopia Lírica" através da qual, mudanças nas formas de convivência abririam espaço para uma redescrição da maneira de sentir/perceber a política, o que acarretaria transformações sociais. É esse tipo de romantismo utópico que encontramos na obra da banda de rock Legião Urbana, que, dialogando com a filosofia, literatura, a história do rock e da canção popular, arte, cinema e política, traduziu em suas canções as esperanças e desilusões dos jovens brasileiros da abertura democrática à "Era Collor". A banda representou a transição do discurso épico (que marcou as eleições diretas para o executivo federal em 1989) para o relativo domínio da prosa na política brasileira: com a mudança em suas letras de um discurso ético-ecumênico (no fim dos anos 80) para o assombro surrealista (no começo da década de 90). Essa transição marca uma mutação na forma de vínculo entre público e privado que põe em xeque a própria possibilidade de Utopia(s). . Os ensaios analisam a construção conceitual dos álbuns da Legião e a trajetória de Renato Russo, tratando pormenorizadamente de suas canções e de como elas formulam uma perspectiva filosófica de política cultural. Em apêndice o livro trás um glossário que dá uma breve descrição do interdiscurso presente em cada canção da Legião Urbana.